domingo, 13 de março de 2011

Claquete Repercute - Três reis

Em 2011, ainda, é possível afirmar que 1999 foi um dos melhores anos para o cinema americano moderno. Foi o ano de Matrix (que já foi tema de Claquete repercute), de Beleza americana, O informante, O sexto sentido, Quero ser John Malkovich, Magnólia, História real, Star wars: ameaça fantasma, A múmia e Clube da luta (todos merecedores de figurarem em Claquete repercute). E foi o ano de Três reis (Three Kings, EUA 1999). O filme que, mais do que ter revelado o talento bruto de David O.Russell (e ele não saberia o que fazer com a consagração crítica embaixo dos braços), mostrou um cinema de ideias que podia sim falar de guerra sem ceder ao drama e ao registro histórico. Podia aventar-se política sem precisar ser professoral. A chatice, na proposta de Russell, cedia lugar a uma verborragia pop. Passa por aí a escalação do elenco. George Clooney, o bonitão da TV que então se viabilizava como astro de cinema; Mark Wahlberg, o ex – rapper e deliquente social Marky Marky em busca de abrigo artístico no cinema; Ice Cube, um rapper de expressão cultural que transitava pelo cinema como estilo de vida e Spike Jonze, um cara estranho que naquele ano lançaria um dos filmes mais originais da história recente do cinema americano.
Três reis começa no fim da primeira guerra do Iraque. No momento em que George Bush, pai, recuou após estratagemas políticos envolvendo o Kuwait, decepcionando milhões de iraquianos. Acompanhamos quatro soldados americanos, em um misto de enfado e ousadia, na jornada para roubar o ouro que Saddam Hussein havia roubado do Iraque. Esses caras não são exatamente bonzinhos, mas também não são vilões. Russell trabalha com aquela noção anticlimática de que ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão. Estamos doidos para perdoar essa turma que se aventura pelo deserto iraquiano em busca de sua aposentadoria. Russell também. Daí a guinada do filme. Os quatro soldados americanos que, até então serviam como alegoria para a intervenção americana no Iraque, se compadecem da miséria e desgraça de um grupo de rebeldes e se junta a eles na causa. Tudo conduzido com muito humor, desapego, cinismo e – ainda assim - com mão firme por Russell que também assina o roteiro.

Cinismo e verborragia marcam um dos filmes mais inteligentes do final do milênio passado


O filme que mostra um iraquiano guardando um mapa na região anal e que, em uma cena das mais bacanas, mostra como a América tem o melhor soft power ¹ (George Bush wants you!, brada George Clooney para um punhado de iraquianos em um dado momento da fita) é das produções mais inteligentes sobre um conflito armado. De qualquer natureza e procedência.
O mais interessante de tudo, é que Três reis foi concebido antes do 11 de setembro e da posterior invasão americana – conduzida por Bush filho – ao Iraque. Os eventos da última década apenas conferiram ao filme mais brilhantismo e modernidade. Desde as intenções iniciais até o repúdio a guerra e a solidariedade aos civis iraquianos que se espalharam pelos EUA entre os anos de 2006 e 2010. Diferentemente do oscarizado Guerra ao terror (tema da última seção Claquete repercute), Três reis é político até a alma. E é pop também. Para o bem e para o mal, é um retrato tenaz da América profunda. Seja ela a do Bush pai, do filho, ou de Obama.



1 – Conceito amplamente conhecido no meio acadêmico pelo qual os Eua (ou qualquer outra nação) afirma seus valores e interesses econômicos, políticos ou de qualquer outra ordem por meio de influência cultural

6 comentários:

  1. Este filme repercutiu na época e ainda tem um efeito diferente no gênero atualmente. Russell demorou para provar seu talento agora com O Vencedor.

    Disse muito bem sobre o elenco de protagonistas. Queria que o Jonze atuasse mais!

    Concordo com vc quanto ao ano de 1999 e tbm um outro final 9 fez história. 1939! Seria legal um post no Claquete sobre este ano de ouro tbm!

    Abs.
    RODRIGO

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  2. Belo texto.

    O legal do filme é te sido feito há mais de dez anos e se localizar durante a Guerra do Golfo, bem antes da invasão ao Iraque do Bush filho e continuar extremamente atual.

    O elenco parece ser divertir neste história cínica, onde a guerra é tratada como forma de lucrar, não só pelos EUA, mas tb pelos soldados.

    Abraço

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  3. Todo mundo elogia demais essa obra, mas eu acho "Três Reis" uma obra completamente normal.. rsrsrs

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  4. Vc está me deixando cada vez mais curiosa pra ver esse filme, rsrsrs

    Ah, sei que aqui não é bem o lugar, mas adorei o pôster do filme da Natalie Portman com o senhor Demi Moore (então, não sei se escrever mesmo o nome dele, rsrs)

    Beijos

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  5. Ana Luisa Alves: Obrigado Ana. Espero ver vc por aqui mais vezes. Bjs

    Rodrigo:Sugestão anotada Rodrigo. E já adianto. Será o tema da nova coluna que o blog estréia no mês que vem. Ótimo pontapé para "Questões cinemaotgráficas".
    Abs

    Hugo: ... e disse tudo. Obrigado pelos elogios. Abs

    Kamila: E é bom ela ser normal né? rsrs. Bjs

    Aline:Obrigado e obrigado. Ah, e é Ashton Kutcher.
    Bjs

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